As aves limícolas migratórias se alimentam em grandes grupos, em habitats compartilhados e de recursos alimentares muito semelhantes, como macro invertebrados bentônicos, demonstrando um alto nível de competição entre as espécies. Para que as espécies coexistam elas precisam ocupar nichos distintos, definidos pela combinação de diferentes usos do habitat e recursos alimentares. Hipotetizamos que apesar da semelhança nas estratégias de forrageamento, as espécies de aves limícolas possuem uma diferenciação em seus nichos tróficos, seja por uma diferença na composição da dieta, diferentes proporções de ingestão de presas, segregação espacial ou temporal de comportamento. Este projeto investiga a ecologia alimentar de aves limícolas migratórias no sítio WHSRN Banco dos Cajuais, Ceará, buscando inferir como ocorre a diferenciação de nicho trófico e partição de recursos alimentares das espécies. Neste estudo vamos testar variações interespecíficas no nicho trófico de aves limícolas migratórias através de análises de isótopos estáveis, que fornece informações sobre o alimento assimilado nos tecidos dos consumidores, averiguando a largura e sobreposição de nichos. Também vamos avaliar a partição de recursos alimentares, averiguando se a distribuição dessas aves na planície de maré coincide com a distribuição de presas que maior contribuem para sua alimentação, apresentando uma diferenciação na distribuição espacial e na frequência de comportamento de forrageamento.

Essas aves estão em declínio populacional global, e os ambientes costeiros que utilizam estão ameaçados por erosão e submersão, resultando em perda de habitat. Entender tal dinâmica ajudará a perceber quais são as sutilezas desses sistemas, como as espécies de aves fazem para reduzir a competição, garantir o sucesso de forrageio, quais são as vulnerabilidades ambientais, quais áreas são as principais para alimentação. As informações obtidas com este estudo podem fornecer dados para embasar estratégias de conservação e ajudar na proteção de seus habitats alimentares, especialmente frente às mudanças ambientais e ameaças humanas.