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30/11/2022

Associação de mulheres fortalece projeto de restauração no sertão sergipano

Associação de mulheres. Foto: Divulgação/Projeto Convert.
Área degradada de Caatinga próxima ao assentamento Mandacaru. Foto: Divulgação/Projeto Convert.
Barragens conhecidas como meia-lua em área de APP. Foto: Divulgação/Projeto Convert.
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O fator humano é preponderante em um projeto de restauração. A recuperação de áreas degradadas envolve e depende de pessoas engajadas para ser bem-sucedida e gerar benefícios múltiplos para a vegetação e a fauna silvestres e também para as comunidades humanas que habitam os territórios.

No sertão sergipano, o projeto Convert considerou esse princípio para conduzir estrategicamente ações de restauração florestal no entorno do Monumento Natural (MONA) do Rio São Francisco. A unidade de conservação (UC) está localizada entre os estados de Alagoas, Bahia e Sergipe.

Depois de realizar um diagnóstico dos fatores de degradação — contando, inclusive, com o recurso de imagens de satélite em alta resolução —, a equipe técnica do projeto Convert elaborou um plano de recuperação de áreas focado na mobilização e capacitação comunitária em assentamentos da reforma agrária no entorno da UC.

“Não existe um único protocolo de como fazer a recuperação florestal na Caatinga. Cada área pede uma abordagem distinta. A recuperação da Caatinga exige um olhar técnico e de aliança com comunidades e o poder público”, destaca Elias Alberto Gutierrez Carnelossi, professor na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e coordenador do projeto.

O assentamento Mandacaru 1 foi selecionado por reunir as características que o projeto Convert buscava. Localizado em Canindé de São Francisco (SE), município a 200 quilômetros de Aracaju, o assentamento é densamente povoado. “Mandacaru 1 tem casas próximas umas das outras. Há a dependência da comunidade para insumos fornecidos pela natureza local, como a madeira. Lá, não identificamos grandes conflitos socioeconômicos e culturais. A comunidade tinha a ideia de iniciar um viveiro para produção de mudas. Ainda, o assentamento está próximo a um povoado relevante, que é Curituba (SE), e possui moradores que já participaram de um projeto de restauração”, relata o prof. Elias Carnelossi.

 

A força das mulheres associadas

A formalização da Associação de Mulheres do Assentamento Mandacaru de Canindé do São Francisco surgiu como um elemento facilitador para as ações de restauração. Das 16 fundadoras, algumas tinham participado em projeto prévio de restauração, implementado por outra organização. Já havia a redação de um estatuto para a criação e a existência de uma associação formal, o que facilitaria as contratações de mão de obra local e fortaleceria a comunidade.

“[A associação] é importante porque tem um objetivo de representatividade, atuante e efetiva, que traz resultados no âmbito social, ambiental e econômico”, afirma Dione França da Silva, presidenta da associação.

Uma média de 25 participantes são ativas na associação, que beneficia não apenas mulheres, como as famílias das associadas que participam das ações de recuperação. Já foram mobilizadas aproximadamente 52 pessoas da comunidade, sendo 28 mulheres e 24 homens, para ações de plantio, manutenção, formação de mudas no viveiro, preparação do solo e construção de cerca rural.

Além disso, a associação facilitou capacitações e treinamentos em temas diversos, como gestão financeira, saberes e sabores da Caatinga, apicultura, coleta e beneficiamento de sementes, plantio e produção de mudas. “A associação vai além do desenvolvimento e engajamento de mulheres. Reivindicamos o direito dos moradores, a busca pelos serviços públicos e a geração de renda para suas famílias”, afirma Cleonice dos Santos, uma das associadas.

Até o momento, foram plantadas 9.359 mudas de 28 espécies nativas da Caatinga, como caraibeira, aroeira, angico, mororó-do-sertão, pau-ferro e umbuzeiro, contemplando uma área de recuperação de 38 hectares. Desse total, 6.359 mudas foram plantadas, por intermédio do projeto, no interior de reserva legal (RL) e 3 mil mudas em área de proteção permanente (APP).

“A Caatinga ensina sobre resiliência para o mundo. Se a mantivermos saudável e produtiva, fornecerá condições para sobrevivência na seca e na fartura”, destaca o prof. Elias Carnelossi.

Na APP, foram isolados em torno de 8 hectares e construídas 105 pequenas barragens conhecidas como meia-luademi-lune, em francês —, que estão sendo monitoradas quanto à eficiência em processos de recuperação no bioma. A técnica de recuperação florestal, comumente usada em Burkina Faso e áreas do oeste da África Subsaariana, consiste no plantio direto em áreas sem vegetação, mas que ganham umidade graças às pequenas barragens.

Na RL, buscou-se como abordagem o plantio de nativas para adensamento e enriquecimento de modo a recuperar áreas degradadas da Caatinga. Uma peculiaridade no assentamento diz respeito à posição da RL, que foi concentrada em uma única e grande área conjunta proporcional à quantidade de lotes.

Até março de 2023, o projeto focará na finalização do viveiro de mudas no assentamento. O viveiro já está produzindo 5 mil mudas em sementeira, que serão usadas em ações de recuperação. Outra ação do projeto é intensificar a coleta de sementes.

 

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