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Fundo Kayapó em campo ampliando as conexões no território
O que pode parecer, à primeira vista, apenas mais uma tarefa de supervisão é na verdade uma oportunidade de aproximar mundos, abrindo novos e importantes diálogos entre gestores, doadores, lideranças, organizações e comunidades. A etapa de monitoramento do Fundo Kayapó esteve em campo, para acompanhar os projetos em execução, avaliando sobre o que já foi executado e ao mesmo tempo cuidando do futuro. As visitas revelaram importantes conquistas, desafios e oportunidades que atravessam o cotidiano das comunidades Kayapó ao longo da execução de seus projetos.
Conhecer de perto as complexidades das realidades locais de cada terra indígena, bioma, comunidade e seus diferentes contextos faz com que os processos do Fundo possam ser aprimorados para os próximos ciclos de investimentos. A partir da escuta ativa na troca com cada associação, as equipes envolvidas diretamente no gerenciamento do Fundo Kayapó podem propor ferramentas e fluxos que as atendam de forma mais efetiva no futuro.
Em junho de 2025, a equipe do FUNBIO, gestor e responsável pela execução dos projetos junto às organizações, esteve com as associações Mekragnotire Sul (T.I. Mekragnoti), Kapot Jarina (T.I . Capoto-Jarina), Pore e Pykôre (T.I. Kayapó). Nesta primeira viagem de monitoramento, as análises sobre os impactos dos projetos aconteceram logo após o encontro da mentoria REMAR com as organizações, que aconteceu em Marabá (PA). Em setembro, foi a vez das associações Angrokreke (T.I. Gorotire), Ngonh Rorokre (T.I. Las Casas) receberem a equipe de monitoramento do FUNBIO para o acompanhamento de seus projetos.
Em Redenção (PA), a equipe pôde conhecer a nova sede da Angrokrere, equipada com recursos do Fundo Kayapó. Com a safra de castanha escassa e o escoamento da produção sendo ainda um desafio, uma oportunidade levantada pelo presidente da associação, Xere Kayapó, para os próximos projetos é focar no mapeamento de mercados com práticas de preço justo para garantir melhores resultados e mais renda para a comunidade.
Já na T.I. Las Casas, território retomado e homologado em 2009, o debate girou em torno da continuidade dos projetos e da autonomia local. Takanawa Kayapó defendeu o fortalecimento da comunicação e de projetos como a casa de costura das mulheres, enquanto Poire apontou a necessidade de obter maior capacitação e aproveitamento para executar os próximos projetos, assim como aprimorar os processos de aquisição de materiais e contratações como consultorias especializadas, por exemplo.
Para Mariam Daychoum, antropóloga, analista de projetos do FUNBIO e uma das responsáveis pelo monitoramento do Fundo Kayapó durante o 5º ciclo, essa etapa tem uma característica especial. “ Diferente dos ciclos anteriores, o quinto ciclo envolve associações que estão trabalhando pela primeira vez com o Fundo Kayapó. Por isso, o monitoramento também serve para construir pontes”, explicou. Ela destaca que o processo vai muito além da fiscalização. “O monitoramento serve para três coisas: conhecer nossos parceiros pessoalmente, permitir que eles nos conheçam e acompanhar os impactos dos projetos, prestando contas para a comunidade, tirando dúvidas e ouvindo as demandas locais.”
Perto do encerramento do 5º ciclo de investimentos, acompanhar a finalização dos projetos é celebrar os resultados de mais uma rodada de aportes revertidos para o fortalecimento das comunidades mebêngôkre olhando para o futuro.
Entre os efeitos devastadores da incidência do garimpo e da extração de madeira em terras indígenas, fica evidente o desejo de reforçar a cultura e os modos de vida kayapó, e de mostrar à sociedade não-indígena que dentro dos territórios e fora deles existem estratégias de conservação, desenvolvimento de cadeias produtivas e gestão de recursos feitas em colaboração com organizações indígenas. Mecanismos de longo prazo como o Fundo Kayapó são ferramentas para a construir e ampliar o conhecimento coletivo sobre as associações indígenas e o povo Kayapó que segue reinventando suas formas de resistência e manejo do próprio futuro.
