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ARPA: Proteção, parcerias e comunidade são vitais para o sucesso das UCs
A implementação do Programa ARPA no dia a dia das Unidades de Conservação na Amazônia é uma jornada marcada por desafios, mas também por soluções inovadoras. Nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Iratapuru, no Amapá, e de Mamirauá, no Amazonas, as experiências das equipes gestoras demonstram um caminho em comum, e revelam que a colaboração e o protagonismo comunitário são as ferramentas mais eficazes para o sucesso da conservação.
Localizada no Amapá, na fronteira com a Guiana Francesa, a RDS do Rio Iratapuru é um santuário de floresta primária, conhecida por sua paisagem selvagem e por abrigar uma das maiores áreas de ocorrência de castanheiras da Amazônia. A vida na reserva é ditada pelo ritmo do rio que lhe dá nome, um curso d’água de beleza cênica, mas de navegabilidade extremamente desafiadora. É neste cenário que a gestão da UC enfrenta seus maiores obstáculos e encontra suas soluções.
Quando Grayton Toledo chegou na gestão da reserva em 2019, deparou-se com um grande desafio: a RDS Iratapuru era uma das poucas unidades do ARPA que ainda não havia iniciado a implantação do Programa de Monitoramento da Biodiversidade (MONITORA).
A solução exigiu criatividade e, acima de tudo, confiança. O primeiro passo foi firmar uma parceria com a ESEC do Rio Jari, UC vizinha que pôde oferecer suporte inicial. O passo seguinte foi ainda mais decisivo: um diálogo aberto com a Comunidade São Francisco do Iratapuru. “Para se chegar até a RDS são 23 corredeiras e cachoeiras ao longo do rio. A parceria com os comunitários foi fundamental”, enfatiza Grayton. A equipe gestora expôs a realidade e pediu apoio, conseguindo o empréstimo de equipamentos e, mais importante, o conhecimento prático dos ribeirinhos para as expedições de monitoramento.
Essa colaboração transformou-se em capacitação. A gestão investiu na formação de uma equipe de monitores comunitários, que aprenderam os protocolos do MONITORA e se tornaram peças-chave na abertura das trilhas e na coleta de dados. “Essa equipe tem se mantido ao longo desses anos. Considero que, de fato, a implantação e consolidação do programa MONITORA foi um desafio muito grande para a gente”, afirma Grayton.
O Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade (MONITORA) é a principal estratégia para avaliar a saúde das espécies e ecossistemas a longo prazo dentro das Unidades de Conservação (UCs) federais. Coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ele estabelece protocolos padronizados de coleta de dados, permitindo que os gestores compreendam as tendências populacionais da fauna e da flora e a efetividade das ações de conservação.
A consolidação final do programa na reserva, que ocorreu no ano passado após atrasos impostos pela pandemia, só foi possível graças à ampliação dessa rede, explica Grayton. A força-tarefa para a coleta de dados de plantas (protocolos básico e avançado) uniu os monitores locais a pesquisadores de instituições como ICMBio, Museu Botânico do Rio de Janeiro, New York Botanical Garden e a Universidade Federal do Paraná. “Foram quase quatro anos de articulação para conseguirmos juntar essa equipe. Sem as parcerias, não teríamos conseguido”, conclui.
O Programa ARPA atua como o principal viabilizador financeiro e estratégico para a implementação do MONITORA nas UCs da Amazônia, fornecendo os recursos essenciais para as expedições, a compra de equipamentos, a logística e a capacitação de equipes, transformando a diretriz nacional do ICMBio em uma realidade concreta no território.
Em Mamirauá, a biodiversidade como guardiã da bioeconomia
A 1.600 quilômetros em linha reta dali, no estado do Amazonas, a RDS Mamirauá se apresenta como um ecossistema completamente distinto. Primeira Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Brasil e parte de um Sítio do Patrimônio Mundial da UNESCO, Mamirauá é uma imensa planície de várzea, definida pelo pulso das águas do encontro dos rios Solimões e Japurá. É o lar do endêmico macaco uacari-branco e de uma riquíssima biodiversidade adaptada a viver entre a terra firme e a floresta inundada.
Para Romaine, da equipe gestora, o ARPA é de “suma importância para combater as constantes situações de pressões e ameaças”, pois garante a proteção dos territórios que hoje são os mais conservados da região. Ele defende que as ações de capacitação ambiental financiadas pelo programa não são apenas cursos, mas parte da “estratégia de intervenção e aprendizado do cotidiano das populações originárias” para garantir a “floresta em pé”.
Isso é feito no Programa de Agentes Ambientais Voluntários (AAV). “O programa aglutina os jovens e adultos ribeirinhos, os quais assumem a missão de mobilizadores e educadores socioambientais”, explica Romaine. O foco vai além da simples proteção, mirando a “direção da bioeconomia com boas práticas de cunho de geração de economia limpa de maneira coletiva”. Os AAVs são, portanto, vetores de um desenvolvimento sustentável que nasce na própria comunidade.
O efeito prático dessa sinergia é a criação de um ciclo virtuoso. O trabalho de monitoramento e proteção, coordenado pelos AAVs, não só coíbe atividades ilegais, mas também prepara o terreno para o Turismo de Base Comunitária (TBC). Romaine descreve o processo como um “mutirão ambiental” que envolve o financiador, o órgão gestor e as populações. O resultado é a conservação das paisagens e dos recursos, “deixando os territórios atraentes e propícios ao uso público para visitações seguras e com variedades de atrativos naturais”.
As experiências de Iratapuru e Mamirauá, embora moldadas por geografias e desafios distintos, revelam uma verdade comum: o sucesso do Programa ARPA está intrinsecamente ligado à sua capacidade de catalisar a colaboração e o protagonismo local. Seja superando barreiras logísticas e burocráticas através de parcerias estratégicas ou capacitando agentes comunitários para liderarem a bioeconomia.
O ARPA – Áreas Protegidas da Amazônia é um projeto do Governo do Brasil, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e tem o FUNBIO como gestor e executor financeiro. É financiado com recursos de doadores internacionais e nacionais, entre eles o governo da Alemanha por meio do Banco de Desenvolvimento da Alemanha (KfW), o Global Environment Facility (GEF) por meio do Banco Mundial, a Fundação Gordon and Betty Moore, a AngloAmerican e o WWF.
