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Harmonia em alto mar
A cerca de 70km da Costa de Caravelas, no Extremo Sul da Bahia,uma fauna única que inclui corais, tartarugas, tubarões, atobás, grazinas com os característicos bicos vermelhos e as ilustres visitantes de todos os anos, as baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae), convive em harmonia com seres humanos. São 90 mil hectares espalhados pelas cinco ilhas (Santa Bárbara, Siriba, Redonda, Guarita e Sueste) do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos.
Esse ordenamento foi construído a muitas mãos ao longo dos últimos anos. Hoje o parque tem o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) como responsável pela proteção e ordenamento. A Marinha do Brasil é responsável pela Ilha de Santa Bárbara. E o FUNBIO também é parte dessa rede de parceiros que permitem que Abrolhos se mantenha como um paraíso.
Desde 2015, sob gestão e execução financeira do FUNBIO, o Projeto Áreas Marinhas e Costeiras Protegidas (GEF Mar), iniciativa coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), é um dos que destinam recursos para essa Unidade de Conservação (UC). Há 37 anos vivendo no Arquipélago dos Abrolhos, Maria Bernadete Barbosa, conhecida como Berna, lembra que no passado o trabalho era mais complexo.
“A gente tinha várias dificuldades logísticas e de equipamento. Agora com as parcerias melhorou muita coisa, temos um bote a motor para o deslocamento entre as ilhas e para acessar as embarcações que chegam, por exemplo. Nossa equipe vai sempre a bordo, dá uma palestra de boas-vindas, fala um pouco do parque, pede a colaboração dos visitantes para mantermos a ordem”, diz Berna, monitora ambiental do ICMBio, que hoje alterna 15 dias de trabalho nas ilhas com a cidade de Alcobaça.
O GEF Mar atua na garantia da conservação desse santuário de biodiversidade marinha, seja na contribuição de ações para controle e erradicação de espécies invasoras, como ratos e cabras. Levados por navegadores há mais de 200 anos, os caprinos viveram na Ilha de Santa Barbará até fevereiro deste ano.
Outro apoio é na garantia de material e infraestrutura para o trabalho dos monitores do ICMBio lotados no Arquipélago. Além disso, há ações manutenção da infraestrutura da sede do PARNA localizado em Caravelas, com a contratação de bolsistas, a compra de veículos e embarcações.
A mais vistosa das entregas viabilizadas por recursos do GEF Mar é a exposição “Abra os olhos”, também no Centro de Visitantes. Aberta ao público todos os dias, das 8h às 18h, é um espaço de lazer e conexão entre a sociedade e a conservação ambiental.
O clima no parque é leve. E as relações colaborativas. Monitores ambientais do ICMBio e membros da Marinha do Brasil estão alinhados para receber turistas, seja na Ilha de Siriba a única acessível para visitação, e Santa Bárbara. De 2021 até agora, o número de visitantes tem ficado em torno de 10 mil pessoas por ano, segundo relatórios produzidos pela gestão do parque. Os meses com maior procura são agosto e setembro. Não por acaso. De julho a novembro as baleias-jubarte migram do frio da Antártica em busca das águas mornas no litoral brasileiro e o Banco dos Abrolhos é conhecido como berçário da espécie.
“As baleias-jubarte são um grande símbolo da área e temos a oportunidade de vê-la em seu habitat natural.. Quem vive essa observação das baleias não esquece jamais”, diz Marina Angeli, bióloga e monitora do ICMBio.
O caminho até o Arquipélago dos Abrolhos é como se fosse uma avenida de jubartes se exibindo. São saltos, borrifadas, mergulhos, caudas à mostra. Elas têm de 15 a 16 metros de comprimento e chegam a pesar 40 toneladas. Na década de 1980, elas foram quase à extinção. Diante da proibição da caça, em 1986 e com um trabalho de conservação e educação ambiental de quase 40 anos, a população de baleias-jubarte saltou de cerca mil para aproximadamente 25 mil indivíduos, segundo o último censo do Instituto Baleia Jubarte, de 2022. E mesmo para quem as vê constantemente, o balé das jubarte impressiona. Fernando Vilas Boas, de 27 anos, é marinheiro de uma das embarcações que leva os turistas e já perdeu as contas de quantas já avistou. Mas percebe que há uma diferença de um ano para outro.
“Cada ano conseguimos perceber que está aumentando o número de baleias. Esse ano já vimos muito mais do que em 2024. O trabalho de conservação e proibição da caça funciona mesmo”, diz ele.
O Parque Nacional Marinho dos Abrolhos protege a maior e mais rica biodiversidade marinha do Brasil e do Atlântico Sul. Além do coral-cérebro-da-bahia (Mussismilia braziliensis), exclusivo do Brasil, outra espécie tem a região com seu santuário: o rabo-de-palha-de-bico-vermelho, mais conhecida como graziana (Phaethon aethereus).
“É aqui no arquipélago onde há a maior concentração reprodutiva das grazinas. Como é uma espécie ameaçada de extinção, realizamos o monitoramento e o acompanhamento dela, para entendermos melhor a sua biologia e também ajudar na conservação”, diz Marina.
Impossível voltar de Abrolhos de olhos fechados para as riquezas naturais que vivem ali na Bahia. E um mantra, em forma de Educação Ambiental, se repete: de lá nada se tira, leva-se Abrolhos no coração. Eis um dos motivos do parque pulsar vida e biodiversidade.
