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ARPA impulsiona descobertas científicas e fortalece manejo do Parque Estadual do Xingu
Em um marco para a ciência brasileira e a conservação ambiental em Mato Grosso, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema/MT) e a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) lançaram oficialmente o livro “Parque Estadual do Xingu: biodiversidade, recursos naturais, importância ecológica e socioambiental”. A obra é o resultado do esforço de pesquisa, viabilizado por uma rede de parcerias estratégicas, com destaque para o apoio financeiro do Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA).
O projeto durou cinco anos de pesquisas e envolveu cerca de 162 pesquisadores de 37 instituições distintas. A sinergia entre o poder público, o financiamento do Programa ARPA e a academia foi o motor que impulsionou as expedições e análises. O objetivo é aprofundar o conhecimento científico para subsidiar a elaboração e a atualização do Plano de Manejo do parque, garantindo que as decisões de gestão sejam baseadas em dados robustos, e colaborando para a consolidação da Unidade de Conservação.
A pesquisa buscou mapear um território de aproximadamente 95 mil hectares, uma área de vasta importância ecológica que, para fins de comparação, supera a área de toda a mancha urbana de Berlim, a capital da Alemanha, ou de países como Singapura. Situado em uma zona de transição entre os biomas Amazônia e Cerrado, o parque funciona como um corredor de biodiversidade único.
As revelações sobre a fauna local são um dos pontos altos da publicação. O inventário detalhado documentou a presença de 29 espécies de mamíferos de médio e grande porte, das quais nove estão ameaçadas, como a onça-pintada (Panthera onca), a ariranha (Pteronura brasiliensis) e o tatu-canastra (Priodontes maximus), todos classificados como vulneráveis.
O estudo também registrou uma impressionante diversidade de insetos: entre 2021 e 2023, foram catalogados 1.517 indivíduos de 151 espécies de borboletas. Além disso, a equipe encontrou 55 gêneros de formigas, incluindo espécies analisadas pela primeira vez em Mato Grosso, e coletou mais de 2 mil indivíduos de 120 espécies de besouros, e capturou 249 abelhas, demonstrando a complexidade do ecossistema.
Sobre a flora, os achados são igualmente extraordinários e incluem registros inéditos para a ciência. A pesquisa trouxe à luz cinco espécies de orquídeas nunca antes vistas em Mato Grosso ou no Centro-Oeste, de um total de 49 espécies catalogadas. Foram identificadas também 52 espécies de samambaias e licófitas, com dois novos registros para o estado. O estudo reconheceu 64 espécies de briófitas (musgos), com sete delas sendo citadas pela primeira vez na região Centro-Oeste, e ainda catalogou 63 espécies de lianas (cipós), essenciais para a estrutura da floresta.
O apoio do ARPA foi destacado como um pilar para o sucesso da iniciativa. Para Ana Paula Santana, coordenadora de Unidades de Conservação do Estado de Mato Grosso, a contribuição do programa ARPA foi determinante para financiar as complexas operações de campo em uma área de difícil acesso e para garantir a qualidade da pesquisa.
“É uma alegria participar do lançamento deste livro. Um trabalho desenvolvido a muitas mãos e com aporte financeiro do programa ARPA, além de recursos estaduais. As pesquisas no parque vão trazer conhecimento da biodiversidade local e a capacitação de muitos alunos que participaram da pesquisa, além de informações que subsidiarão políticas públicas”, afirma.
O programa ARPA, reconhecido por seu papel vital na proteção da Amazônia brasileira, mais uma vez demonstra sua eficácia ao investir na geração de conhecimento como ferramenta de conservação. O financiamento permitiu que as equipes pudessem realizar um diagnóstico detalhado da biodiversidade, um passo indispensável para a proteção efetiva do patrimônio natural contido nos limites do Parque Estadual do Xingu.
Durante o evento de lançamento, diversas autoridades ressaltaram o valor da publicação. Alex Marega, Secretário de Estado de Meio Ambiente em exercício, celebrou a colaboração. “A obra é o resultado de parcerias estratégicas, e a pesquisa nos traz o aprimoramento sobre o conhecimento dos potenciais biológicos, humanos e sociais, o que com certeza irá auxiliar na construção de políticas públicas”, declarou.
Representando a comunidade científica, o Pró-Reitor de Pesquisa da UFMT, Bruno Araújo, falou sobre a longa jornada até a publicação. “O lançamento desse livro coroa todo um processo. A pesquisa leva tempo, investimento e dedicação. O livro é o resultado de muitos anos de pesquisa, e que servirá para viabilizar políticas públicas de conservação”, afirmou Araújo.
O professor da UFMT, Domingos de Jesus Rodrigues, que apresentou a pesquisa, também destacou o compromisso da universidade com a sociedade. “Agradecemos o aporte que o Governo do Estado, por meio da Sema, e o programa ARPA, nos ofereceu para a realização dos estudos em uma área remota. Temos um compromisso com a sociedade mato-grossense e esse é um retorno que oferecemos”, comentou.
Para a equipe que atua diretamente na proteção da área, o livro é recebido como um verdadeiro manual de operações. A expectativa é que, com essas informações, seja possível planejar rotas de fiscalização mais eficientes para coibir a caça e o desmatamento, identificar áreas prioritárias para a recuperação e, inclusive, desenvolver programas de ecoturismo e educação ambiental mais seguros e eficazes, transformando a ciência em ação prática de conservação.
O livro sobre o Parque Estadual do Xingu nasce como um documento de referência, principalmente, para os gestores públicos. Ele representa a materialização do conceito de que a conservação eficaz depende do conhecimento aprofundado sobre o que se pretende proteger. Com o suporte decisivo do programa ARPA e a dedicação de centenas de pesquisadores, Mato Grosso dá um passo significativo para assegurar a existência de espécies únicas do Brasil, em uma das regiões mais sensíveis da Amazônia brasileira.
O ARPA – Áreas Protegidas da Amazônia é um projeto do Governo do Brasil, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e tem o FUNBIO como gestor e executor financeiro. É financiado com recursos de doadores internacionais e nacionais, entre eles o governo da Alemanha por meio do Banco de Desenvolvimento da Alemanha (KfW), o Global Environment Facility (GEF) por meio do Banco Mundial, a Fundação Gordon and Betty Moore, a AngloAmerican e o WWF.
