Notícias
Programa ARPA viabiliza gestão estratégica e proteção na Amazônia
A proteção do bioma amazônico, com sua vasta extensão e desafios logísticos, exige mais do que esforço local: requer parcerias estratégicas capazes de conectar diferentes territórios. Do sul do Amazonas à região do Baixo Rio Negro e até a fronteira de Rondônia, unidades de conservação federais mostram como o apoio do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA) tem sido decisivo para fortalecer a presença do Estado, ampliar a pesquisa científica, estimular o monitoramento ambiental e ferramentas de gestão. Nos parques e reservas, gestores apontam que essa rede de apoio garante desde a manutenção das estruturas básicas até operações complexas de fiscalização, revelando um mosaico de proteção que atravessa toda a Amazônia.
No sul do Amazonas, o Núcleo de Gestão Integrada (NGI) Humaitá é responsável por três unidades de conservação (UCs) federais — o Parque Nacional dos Campos Amazônicos, a Reserva Biológica do Manicoré e o Parque Nacional do Acari. Juntas, elas somam mais de 2,2 milhões de hectares de florestas e cerrado, território equivalente a quase duas vezes o estado de Sergipe.
As principais pressões vêm da grilagem de terras, do garimpo ilegal de ouro e cassiterita, da extração seletiva de madeira nobre e do avanço da fronteira agropecuária, que impulsiona o desmatamento no entorno e busca invadir os limites das áreas protegidas.
“Se não fosse o projeto ARPA, dificilmente teríamos unidades tão implementadas e protegidas na Amazônia”, afirma o analista ambiental Caio Vinicius Almeida, do NGI Humaitá. “O programa viabiliza a presença constante do órgão gestor no território, custeando desde o combustível para as expedições até a realização de reuniões com conselhos e comunidades em múltiplos municípios. Fica difícil imaginar como seria a gestão desse território no bioma amazônico sem o programa ARPA”, aponta o analista ambiental.
Almeida reforça ainda como os instrumentos de gestão apoiados pelo ARPA fazem diferença na prática. “O suporte se materializa em ferramentas essenciais, como o Cartão Pequenos Gastos e o Cartão Alimentação, que garantem que em operações de fiscalização — muitas vezes realizadas em acampamentos remotos com forças policiais — a equipe tenha toda a segurança e estrutura necessárias”, afirma.
O impacto também é visível em atividades de monitoramento. “No Parque Nacional dos Campos Amazônicos, o apoio do ARPA permitiu a execução de todas as campanhas de biodiversidade. Isso garante a sistematização do conhecimento para um melhor planejamento da gestão e o envolvimento da população local”, detalha Almeida.
O Parque Nacional dos Campos Amazônicos abriga um raro enclave de cerrado em meio à floresta amazônica, o que o torna singular. Entre as espécies de fauna mais emblemáticas estão o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), considerado quase ameaçado, e o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), listado como vulnerável. Também está presente a onça-pintada (Panthera onca), classificada como quase ameaçada, símbolo da biodiversidade amazônica.
Na Reserva Biológica do Manicoré e no Parque Nacional do Acari, predominam florestas densas que abrigam espécies ameaçadas como o macaco-aranha-de-cara-preta (Ateles chamek), vulnerável, e a ariranha (Pteronura brasiliensis), classificada como em perigo. A flora também é marcada por árvores de alto valor ecológico e econômico, como a castanheira-do-brasil (Bertholletia excelsa), e o mogno (Swietenia macrophylla), espécie ameaçada pela exploração ilegal.
No baixo Rio Negro, no estado do Amazonas, a experiência do Parque Nacional de Anavilhanas reforça a abrangência dessa rede de proteção. O chefe substituto da unidade, Gilberto de Freitas Moreira, explica: “A atuação do Parque Nacional de Anavilhanas, em parceria com o Projeto ARPA, tem sido essencial para fortalecer a proteção da riqueza de biodiversidade que compõem a unidade. Com o apoio financeiro na manutenção das estruturas físicas e nos equipamentos, o parque mantém sua presença institucional ativa na região, garantindo fiscalização, monitoramento e ações de conservação mais eficientes”, destaca.
Ele ressalta que os benefícios vão além dos limites do parque: “Esse trabalho impacta positivamente todo o Mosaico de Áreas Protegidas do Baixo Rio Negro, contribuindo para a proteção em rede de uma das regiões mais importantes da Amazônia”, diz Gilberto.
O gestor também chama atenção para o papel crescente do turismo ecológico e da educação ambiental em Anavilhanas. “Demonstrar para a sociedade que a floresta em pé é mais valiosa que a exploração sem controle é o grande desafio. Nesse sentido, é fundamental investir em iniciativas de educação e interpretação ambiental, que aproximem a população das áreas protegidas e fortaleçam o sentimento de pertencimento. Valorizar esse contato é essencial para que as pessoas compreendam o privilégio que o Brasil tem ao abrigar um bioma tão vital para o equilíbrio climático e ecológico do planeta.
Composto por mais de 350 mil hectares de ilhas fluviais e canais, o Parque Nacional de Anavilhanas é um dos maiores arquipélagos fluviais do mundo. Sua biodiversidade inclui mamíferos aquáticos icônicos, como o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis), espécie classificada como em perigo, e o peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis), também listado como vulnerável.
As florestas alagadas e várzeas abrigam ainda aves de grande importância, como a ararajuba (Guaruba guarouba), vulnerável, e o gavião-real (Harpia harpyja), quase ameaçado. A flora é composta por espécies adaptadas às cheias sazonais, incluindo árvores de igapó e várzea, além de palmeiras como o açaí-do-amazonas (Euterpe precatoria), de grande importância econômica e ecológica.
No extremo oeste, na Reserva Extrativista (Resex) Rio Cautário, localizada no corredor Madeira–Mamoré–Guaporé, em Rondônia, o apoio do programa ARPA também faz diferença. Inserida em um mosaico ambiental que conecta diversas UCs e Terras Indígenas, a unidade é estratégica para a proteção do corredor Madeira–Mamoré–Guaporé. Seu gestor, Lauro de Oliveira Góes, destaca: “Se considerarmos que a UC Resex Rio Cautário está inserida num mosaico ambiental que congrega outras UCs e Terras Indígenas, o Programa ARPA tem uma importante contribuição para proteção dessas áreas florestadas.”
A Resex abriga uma grande diversidade de ambientes — que vai de florestas densas a áreas de várzea — e sustenta populações de grandes predadores e espécies ameaçadas. Entre elas, a onça-pintada (Panthera onca), o tatu-canastra (Priodontes maximus), considerado vulnerável, e aves raras como o mutum-de-penacho (Crax globulosa), em perigo.
Entre os resultados mais recentes, Góes aponta a gestão de um recurso natural emblemático. “Na UC Resex Rio Cautário, o Programa ARPA está apoiando o projeto de manejo do pirarucu invasor, gerando renda para as comunidades envolvidas”, relata. Para ele, o futuro da conservação passa pelo fortalecimento de alternativas sustentáveis: “É fundamental apoiar projetos de geração de renda para comunidades tradicionais, unindo conservação e desenvolvimento sustentável”, afirma o gestor.
Unidades de Conservação como Anavilhanas e Rio Cautário revelam que o Programa ARPA não é apenas uma fonte de recursos, mas um pilar que sustenta a gestão estratégica, a produção científica, a valorização cultural e o fortalecimento comunitário. Em uma Amazônia sob constante pressão, o fortalecimento dessa rede é vital para garantir que as unidades de conservação permaneçam vivas, com floresta em pé, biodiversidade preservada e comunidades cada vez mais engajadas em seu futuro sustentável.
O ARPA – Áreas Protegidas da Amazônia é um projeto do Governo do Brasil, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e tem o FUNBIO como gestor e executor financeiro. É financiado com recursos de doadores internacionais e nacionais, entre eles o governo da Alemanha por meio do Banco de Desenvolvimento da Alemanha (KfW), o Global Environment Facility (GEF) por meio do Banco Mundial, a Fundação Gordon and Betty Moore, a AngloAmerican e o WWF.
