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06/11/2018

Biólogo por natureza

Desde criança, o sonho de Caio Pamplona é trabalhar "no meio do mato". Crédito: Arquivo pessoal
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Ninguém estranhou quando Caio Pamplona voltou de uma viagem de Semana Santa decidido a abandonar o segundo ano do curso de Direito na PUC-SP. Um encontro inesperado com um velho amigo estudante de Biologia, que fazia coleta de insetos em frente à Estação Ecológica Tupinambás, em São Paulo, trouxe à tona memórias de uma infância feliz cercada de animais.

Mais novo, criava terrários, vivia pesquisando sobre bichos em enciclopédias e dizia para todo mundo que seu sonho era ser guarda-parque quando crescesse. No entanto, a falta de perspectiva profissional na Biologia o fizera optar pelo Direito. “Naquele encontro com meu amigo, ficou muito claro que eu estava na profissão errada”, lembra ele, que hoje trabalha como chefe do Núcleo de Gestão Integrada Antonina-Guaraqueçaba, no Paraná.

Em três meses, o paulistano (queà época tinha 21 anos) passou no vestibular de Ciências Biológicas na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e se mudou para o Paraná. Era o início da jornada que o levaria a realizar uma versão ainda melhor daquele sonho de infância: ser gestor de unidade de conservação.

 

Primeira parada: Amazônia

Ao se inscrever no concurso público do Ibama, em 2005, pensou em mirar apenas nas vagas de Brasília. Mas os próprios pais o fizeram mudar de ideia: “Já que é para trabalhar no Ibama, por que não vai logo para o meio do mato?”, perguntaram. Ele seguiu o conselho e fez a prova para o estado do Amazonas. Ainda naquele ano, assumiria a gestão da Reserva Biológica (Rebio) do Uatumã, onde ficaria por cinco anos.

Desde então, Pamplona percorreu o país de Norte a Sul, indo sempre aonde há “problema para resolver”. “Pode me cobrar, mas me dê condições de trabalhar”, diz. Na Rebio Uatumã, não faltou trabalho: a recém-criada UC era apoiada pelo ARPA e recebia mais R$ 2 milhões da usina Eletronorte, compensação ambiental prevista em decreto. À frente de uma equipe de três pessoas, ele formou o primeiro conselho da unidade, construiu instalações de apoio à pesquisa, iniciou o monitoramento de desova dos quelônios e instituiu o serviço voluntário. Recebeu elogios do Tribunal de Contas da União em mais de uma ocasião.

Em 2010, assumiu uma das Coordenações Regionais do ICMBio, onde lutou, por três anos, pela resolução da questão fundiária. Comunitários vivendo em UCs estavam em constante estado de tensão com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Os financiamentos prometidos para a construção de casas e compra de equipamentos agrícolas para os produtores foram congelados pois eles não possuíam os títulos de propriedade. “Houve até ameaças de desmonte de casas por parte do Incra. A situação era extremamente delicada e ninguém sabia como resolver”, lembra o analista.

Não seria a última vez que os dois anos de curso de Direito lhe cairiam como uma luva. Pamplona atribuiu à coordenação recém-criada a tarefa de articular os atores que poderiam desatar os nós da questão fundiária. “Acionamos o Ministério Público e a Secretaria de Patrimônio da União, e pouco a pouco encontramos os instrumentos jurídicos adequados”. Segundo ele, o processo culminou no primeiro mapeamento do terreno dos rios federais no estado. “Transformamos um mistério até então insolúvel em ação de gestão”, conta.

Quase uma década de Amazônia lhe rendeu o convite para assumir a Coordenação Geral de Criação, Planejamento e Avaliação de Unidades de Conservação do ICMBio em Brasília. A experiência o colocou de frente para outro conflito, mas de natureza institucional. “Existe um sentimento entre gestores de UCs que Brasília não entende a realidade do campo e que para se conseguir as coisas é preciso pedir pessoalmente”, explica. Na sede, ele percebeu que havia a crença de que os gestores eram insubordinados. “Descobri que ambas as pontas sofrem do mesmo problema: falta de pessoal e falhas na comunicação. Estão todos sobrecarregados e incapazes de atender as expectativas do outro. Ninguém faz de propósito”, relata.

Ele dá o exemplo do Serviço Florestal Americano, que tem 35 mil pessoas para cuidar de 70 milhões hectares de área, enquanto o ICMBio conta com menos de 2 mil funcionários para cuidar de 115 milhões de hectares. “Não tem como fechar essa conta”, afirma. Ainda assim, se declara um entusiasta do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Tanto que sentiu falta dos desafios da gestão e encontrou um novo parque para cuidar no Paraná, o ponto de partida de sua jornada.

De volta ao estado, ele cria a filha de 4 anos em uma região com 75% de cobertura de floresta nativa, enquanto toca o Núcleo de Gestão Integrada de Antonina-Guaraqueçaba. Até hoje, não lhe falta trabalho. Nem energia. “O SNUC te mantém esperto e sem tempo para desmotivação”, garante.

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