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28/12/2018

Caminho das águas

Em algumas UCs, as voadeiras são fundamentais no dia a dia da gestão. Foto: Gerson Guaita/ICMBio

 

Saindo de Manaus em um hipotético voo sem paradas, chega-se mais rapidamente à Índia de avião do que de barco à Reserva Extrativista Baixo-Juruá. A 750 km da capital do Amazonas, a Resex é uma das unidades de conservação apoiadas pelo ARPA que não tem estradas fazendo ligação com as cidades mais próximas. Isso significa, por exemplo, que a bordo de uma embarcação de recreio os gestores levam até 40 horas para navegar os 250 km que separam a UC do escritório que o ICMBio tem na cidade de Tefé. De lancha, o tempo cai para 9 ou 10 horas – mesma duração de um voo direto de São Paulo para Nova York.

Se, por um lado, o isolamento dessas áreas espanta o fantasma do desmatamento, as grandes distâncias trazem desafios peculiares à gestão. Adquiridas e abastecidas regularmente com recursos do ARPA, as lanchas conseguem navegar por igarapés e rios menores, levando técnicos para reuniões com comunitários, ações de fiscalização, monitoramento ou atividades de apoio à pesquisa. “Uma vez ali dentro, também recebemos o apoio dos comunitários. O maior problema é chegar à unidade”, conta o chefe substituto da Resex Baixo-Juruá, Gerson Guaita,

Na Resex Auatí-Paraná, também no Amazonas, não é muito diferente. A gestora Fernanda Xavier costuma levar 30 horas para percorrer os mais de 300 km entre o escritório e a unidade. “Em época de seca, levamos até dois dias para chegar, porque as vias de acesso ficam reduzidas”, conta. Mas não é apenas o tempo de viagem que dobra: o gasto com combustível – que já é normalmente mais caro em regiões remotas – também aumenta. “Não há muita oferta de postos de gasolina e a dificuldade logística faz com que eles elevem o valor do combustível”, diz Fernanda.

As duas unidades são separadas pelo rio Solimões, mas suas equipes gestoras trabalham lado a lado no escritório de Tefé. O espaço é compartilhado, ainda, com os times que atuam na Resex Rio Jutaí, nas Estações Ecológicas Juami-Japurá e Jutaí Solimões e na Floresta Nacional de Tefé – a única a não contar com recursos do ARPA.

Os técnicos dividem o escritório e também as preocupações que só conhece quem trabalha em uma UC isolada. Por isso, a proposta que o ICMBio tem levado à frente com a criação de Núcleos de Gestão Integrada (NGI) é vista com bons olhos pelos gestores destas unidades.

 

Logística desafiadora

 

“A gente planeja as viagens para a Resex com um mês de antecedência, mas, às vezes, chega no posto no dia combinado e não tem combustível. Neste caso, o dono pede para outro posto fornecer, mas, se a balsa que traz o combustível não tiver chegado à cidade, precisamos adiar a atividade”, diz Fernanda.

Nesses casos, o apoio do ARPA permite à equipe comprar uma passagem de emergência em outro barco para manter o cronograma. Com uma logística tão complexa, os deslocamentos acabam se tornando o maior gasto da Auatí-Paraná, logo após infraestrutura. Fernanda e Guaita concordam: se não fosse pelos recursos do programa, grande parte das ações seria inviabilizada e a presença institucional do ICMBio, comprometida.

Com as atividades do órgão in loco, as comunidades locais também saem ganhando. Afinal, ninguém melhor do que os ribeirinhos para conhecer os caminhos das águas. Na Resex Baixo-Juruá, são os comunitários que tomam conta das voadeiras e são contratados como “piloteiros”, graças, também, aos recursos do ARPA. “A associação é o nosso braço direito. É uma parceira fundamental para que a gestão realize seu trabalho”, diz Guaita.

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