FLORESTA VIVA
Restauração ecológica dos biomas brasileiros com recursos do Fundo Socioambiental do BNDES e de instituições apoiadoras
FINACLIMA-SP
Mecanismo que viabiliza aportes de recursos privados, para ampliar e qualificar o financiamento climático no território paulista
AMAZÔNIA VIVA
Mecanismo de Financiamento Amazônia Viva fortalece organizações, negócios e a cadeias da sociobiodiversidade

GEF Terrestre promove ações de recuperação de espécies ameaçadas da fauna
País com a maior biodiversidade do mundo, o Brasil abriga em sua fauna mais de 124 mil espécies. Esta enorme variedade, entretanto, enfrenta ameaças causadas pelo impacto das atividades humanas no meio ambiente, entre as quais o desmatamento e as queimadas. A conservação da fauna é uma das linhas de ação do GEF Terrestre, que apoia o trabalho do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no monitoramento de espécies da Caatinga, do Pantanal e do Pampa, bem como na definição de políticas e na execução de ações para sua proteção. A avaliação é a primeira etapa deste processo, na qual são coletados dados sobre a população das espécies. “O trabalho começa na avaliação do status de conservação e do risco de extinção das espécies”, explica Bernardo Brito, Coordenador de Criação de Unidades de Conservação do ICMBio. A partir desse levantamento, são criadas fichas que informam quais as principais ameaças sofridas pelas espécies e em qual das dez categorias de risco elas se enquadram — extinta, extinta na natureza, regionalmente extinta, criticamente em perigo, em perigo, vulnerável, quase ameaçada, menos preocupante, dados insuficientes e não aplicável. Elas são armazenadas no Salve, sistema do ICMBio que reúne dados de mais de 13 mil espécies. Essas informações alimentam a Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção e subsidiam a elaboração dos Planos de Ação Nacional para Conservação (PANs). Segundo Brito, os PANs propõem formas de atuar diretamente sobre as causas das ameaças às espécies com risco de extinção. Criados em 2004, eles definem medidas objetivas estratégicas para eliminá-las ou mitigá-las. Esses planos podem ser monoespécie, ou seja, se concentrar em uma única espécie, como o PAN Ararinha-Azul (Portaria Nº 353, de 25 de julho de 2019), ou definir ações de proteção a um grupo de espécies que vivem em uma mesma região e/ou sofrem ameaças semelhantes, como o PAN Aves da Caatinga (Portaria ICMBIO Nº 1.546, de 21 de maio de 2024). Ambos foram elaborados e publicados com o apoio do GEF Terrestre, que atua também na implementação das ações previstas nestes documentos. O segundo, o PAN Aves da Caatinga, se debruça sobre 34 espécies ameaçadas de extinção no bioma. Entre elas, o periquito cara-suja (Pyrrhura griseipectus), classificado como ‘Em Perigo’ com apenas 822 indivíduos. Natural do Ceará e presente também na Bahia, ele é reconhecido pelo seu peito acinzentado e penas avermelhadas no interior da asa. Para esta espécie foram previstas ações de monitoramento da população e apoio a iniciativas de reintrodução em áreas de ocorrência histórica, como a RPPN Serra das Almas, localizada na fronteira dos estados do Ceará e Piauí. “Com recursos do GEF Terrestre, conseguimos apoiar o censo da população de periquitos cara-suja na Serra de Baturité, assim como as iniciativas de reintrodução da Serra de Aratanha, RPPN Serra das Almas e Parque Nacional de Ubajara, no Ceará. Elas foram possíveis graças à experiência bem-sucedida de reprodução em caixas-ninho, conduzida com muita competência, que possibilitou um expressivo aumento da população da espécie na Serra de Baturité”, conta Emanuel Barreto, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE). Ao todo, o GEF Terrestre já atuou na elaboração e publicação de seis PANs e apoiou a implementação de ações prioritárias de restauração de fauna em 12 territórios nos três biomas apoiados pelo projeto. Os recursos do GEF Terrestre permitiram ainda a contratação de 33 bolsistas que participam de todas as etapas do monitoramento de espécies da fauna do Pantanal, do Pampa e da Caatinga conduzido pelo ICMBio. O projeto GEF Terrestre é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), sob gestão e execução do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como agência implementadora.
Ler notícia
Expedições na Caatinga, Pantanal e Pampa atuam na detecção e avaliação de risco de espécies da flora
Há 15 anos, uma nova espécie da família das bromélias foi descoberta entranhada nos enormes paredões verticais e úmidos de Bonito (MS). Ganhou o nome de Tillandsia bonita, em homenagem à capital do ecoturismo no Brasil. Desde então, pouco se soube a respeito desse pequeno tesouro da nossa biodiversidade, protegido pelo Parque Nacional (PARNA) da Serra da Bodoquena e só ali encontrado (endêmico, portanto), o que o torna mais vulnerável. Foi justamente para colher informações sobre a população de espécies pouco estudadas que a equipe do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), realizou seis expedições ao longo deste ano com o apoio do GEF Terrestre. Os pesquisadores do JBRJ, responsáveis pelo monitoramento da flora brasileira, acessaram áreas ainda pouco exploradas da Caatinga, do Pantanal e do Pampa para realizar a coleta de dados fundamentais que irão embasar futuras ações de conservação nos biomas. “São biomas historicamente negligenciados em termos de pesquisa botânica e investimentos em conservação, então havia um grande déficit de conhecimento sobre quais espécies endêmicas estavam, de fato, sob risco iminente de extinção. O trabalho conduzido pelo CNCFlora no âmbito do Projeto GEF Terrestre permitiu avançar significativamente nesse cenário, com a avaliação do risco de extinção de mais de 1,3 mil espécies endêmicas desses biomas”, explica Eduardo Fernandez, coordenador de avaliação do estado de conservação da flora e funga do CNCFlora. A avaliação de risco de extinção da Tillandsia bonita foi um dos focos da expedição pelo Pantanal, que visitou o PARNA da Serra da Bodoquena no início de fevereiro. “É uma espécie que ainda não passou por essa etapa, mas que será submetida agora ao processo de classificação do nível de ameaça que conduzimos”, diz Fernandez. Os pesquisadores ainda coletaram exemplares de dezenas de espécies da flora pantaneira para catalogação e avaliação. Em quatro expedições na Caatinga, o único bioma exclusivamente brasileiro, a equipe CNCFlora visitou o Parque Nacional Serra das Confusões e o Parque Nacional Serra da Capivara, ambos no Piauí. Na primeira Unidade de Conservação, os pesquisadores conseguiram localizar uma das espécies alvo da viagem, a Paepalanthus magistrae, uma sempre-viva também encontrada pela primeira vez há 15 anos, que cresce nas fendas das rochas e é considerada joia botânica. “Foi um prêmio ter encontrado ela”, comemora Eduardo. Realizada no Pampa, a última expedição localizou novas subpopulações e indícios de propagação de mais de dez espécies de cactáceas ameaçadas e endêmicas do bioma. Os pesquisadores também encontraram exemplares da Ephedra tweediana. “Esta é uma espécie muito enigmática e que é classificada como vulnerável. Na expedição, conseguimos coletar os primeiros registros para o Herbário RB, que reúne o acervo botânico do JBRJ, na região litorânea do Rio Grande do Sul”, completa Fernandez. Para Gustavo Martinelli, diretor do CNCFlora/JBRJ, essas expedições desempenham um papel fundamental nas pesquisas, que é obter e coletar amostras, dados e informações da região para análise e registro nos acervos científicos nacionais. “Saber se em uma região tem espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção é extremamente importante para garantir o manejo de uma Unidade de Conservação e, também, para as ações de conservação relacionadas à flora”, explica ele, que conta com o auxílio de bolsistas em diversas etapas deste trabalho graças também aos recursos do GEF Terrestre. Segundo Marian Rodriguez, chefe do PARNA Serra da Capivara, os estudos científicos são um pressuposto fundamental para a proteção da flora brasileira e para que o país possa se desenvolver de forma ambientalmente sustentável. “As Unidades de Conservação da Caatinga têm sido um oásis de proteção do bioma. Então é preciso investir mais em pesquisa, pois o eixo principal do nosso trabalho está sempre embasado em dados científicos. É um tripé: ciência, conservação e desenvolvimento sustentável”, finaliza. O projeto GEF Terrestre é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), sob gestão e execução do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como agência implementadora.
Ler notícia
Documentário “Bep Kororoti: O Olho que Tudo Vê”, o olhar Kayapó sobre o território
Guardiã ao mesmo tempo de dois biomas, o cerrado e a floresta, e cercada pela monocultura e por pressões como a extração ilegal de minérios e madeira, a Terra Indígena Capoto-Jarinã fica no norte do Mato Grosso. É nesse contexto que o documentário “Bep Kororoti: O Olho que Tudo Vê”, foi pensado e realizado, mostrando o cotidiano da aldeia Kapot, que reúne atualmente 600 pessoas. A produção da Associação Cultural Indígena Kapot Jarinã (ACKJ) foi contemplada pelo 5º ciclo do Fundo Kayapó e une tradição e tecnologia para reafirmar o protagonismo indígena na defesa de seus territórios através da narrativa audiovisual. Entre anciãos, mulheres e jovens, mais de 20 pessoas participaram das gravações feitas na aldeia. As entrevistas registraram histórias transmitidas de geração em geração e revelaram estratégias de proteção e monitoramento com o território. Para Betikre Tapayuna Metuktire, comunicador, jovem liderança e produtor do filme, o envolvimento da aldeia foi essencial. “A comunidade toda está envolvida no documentário — fazendo captação de imagens, tradução, contando as histórias do povo. Isso me deixa muito feliz”, diz Betikre. Segundo ele, a ideia do filme nasceu em 2019, durante as mobilizações indígenas contra o Marco Temporal. “Queremos mostrar como mantemos nosso conhecimento tradicional e como os povos indígenas preservam suas terras, rios e nascentes. É um filme demonstrativo do que já fazemos para proteger o território e manter viva a cultura dos mais velhos, que passam os saberes aos mais jovens”, explica. A utilização da tecnologia como ferramenta de monitoramento e proteção do território é outra frente de proteção lembrada por Betikre abordada no filme. Um exemplo é o uso de um aplicativo via celular, o SOMAI (Sistema de Observação e Monitoramento da Amazônia Indígena), que monitora o território emitindo alertas quando ocorrem invasões ou incêndios nos arredores de sua aldeia. “Para quem ataca nossos direitos ou não conhece os povos indígenas, é importante ver como trabalhamos em defesa do território e como usamos as tecnologias para proteger”, completa. No documentário, Betikre também aparece diante das câmeras como um dos entrevistados. “Essa é uma ferramenta para proteger e denunciar. É um filme muito forte, que traz nossas histórias que queremos mostrar para o mundo”, afirma. A direção e edição ficaram a cargo de Arewana Yudja, comunicador indígena Yudja, que assumiu o desafio de transformar as narrativas Kayapó em uma linguagem audiovisual.“São 20 personagens entre lideranças antigas e jovens, incluindo mulheres e comunicadores. Queríamos mostrar a realidade da aldeia Kapot e a força do território, que abriga dois biomas — a floresta e o cerrado. Mostrar onde e como o povo mora, planta, procura suas medicinas”, explica Arewana. Ele conta que o processo de filmagem foi desafiador, devido à distância e à falta de energia na aldeia. “Demora para fazer um documentário. Não dá para fazer de qualquer jeito. A gente pensa em tudo, escolher a música para combinar as imagens com o sentimento do povo. Mesmo sem falar a língua mebêngôkre, conseguimos trabalhar juntos. Foi uma experiência muito importante trabalhar com os parentes.” “Bep Kororoti: O Olho que Tudo Vê” parte do olhar dos próprios Kayapó sobre sua vida e território. O filme mostra como a comunicação tem se tornado uma das principais estratégias de defesa cultural e ambiental dos povos indígenas. Entre as lentes e a floresta, os jovens comunicadores da T.I. Capoto-Jarinã constroem uma ponte entre o passado e o futuro, transformando o cinema em instrumento de transmissão de saberes através da tradição oral, uma nova forma de contar histórias, de preservar e resistir.
Ler notícia