Os Sistemas Lagunares do Leste Fluminense, que compreende lagunas de vários municípios da região dos Lagos, é historicamente um ambiente onde diversas famílias obtêm sua renda e estabelecem seu modo de vida através da prática da atividade pesqueira artesanal. Os Sistemas Lagunares do Leste Fluminense produzem recursos para a vida humana desde séculos antes da ocupação portuguesa do território brasileiro. Os resquícios desse modo de vida estão presentes nos sítios arqueológicos dos sambaquis, em cerca de 67 lugares próximos às lagoas e lagunas da região. Ao longo do tempo o número de comunidades pesqueiras tradicionais que vivem no entorno da lagoa cresceu exponencialmente. Atualmente existem cerca de 1260 pescadores que vivem da pesca artesanal nas lagoas de Piratininga, Itaipu, Maricá, Guarapina, Saquarema e Araruama. Esse número de pescadores é distribuído em cerca de 54 comunidades pesqueiras. A cadeia produtiva da pesca artesanal reúne diversos grupos, como: pescadores em atividade, mestres da pesca, lideranças formais, representantes do setor público, academia e o setor privado. A produção de pescado nas lagoas chega ao número de 2.851,5 toneladas/ano (Costa et al., 2021. p.126). Por outro lado, estórias como a do pescador Marquinhos da comunidade pesqueira da praia da Siqueira em Cabo Frio, em que relata que na sua infância se estudava para não ser pescador, mas que hoje seu filho pequeno diz que estuda justamente para ser pescador como o pai, mostra como a cultura e o modo de vida das comunidades pesqueiras são motivos de orgulho que perpassa gerações. Assim como na Siqueira, outras comunidades pesqueiras também existem diversos relatos de como os pescadores buscam aproximar as novas gerações das práticas e cultura da pesca. Nesse sentido, nasce o projeto “Novos mestres: Autonomia à bordo e a multiplicação de saberes da arte de construção artesanal e manutenção de barcos de pesca lagunar”, que tem como objetivo fortalecer a cultura e arte da pesca artesanal por meio da produção material de embarcações utilizadas nas pescarias. Desta forma, se pretende estimular e reaproximar as novas gerações e a comunidade do entorno da cadeia da pesca e valorizar esta arte milenar. Para isso, o projeto será desenvolvido à partir de cinco objetivos específicos: a) Mestres e Aprendizes: realização de oficina de reparo de barcos artesanais; b) Autonomia à bordo: realização de oficinas de reparo de motores de barco; c) Novos mestres: realização de oficinas de construção de barcos artesanais; d) Histórias de pescador: realização de rodas de conversas e educação ambiental com pescadores locais e profissionais ligados à construção naval artesanal; e) Arte e Cultura: realização de atividades culturais e de sustentabilidade envolvendo as escolas do entorno e as comunidades pesqueiras. Com isso, se espera que a arte e cultura da construção dos barcos se perpetue através das novas gerações e a comunidade do entorno valorize o modo de vida local.